quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

580 - Que é envelhecer?

O Dr. João Pedro de Magalhães, biólogo da Universidade de Liverpool, dedicou sua vida acadêmica a estudar o processo de envelhecimento. Este vídeo ilustra uma palestra do Dr. Magalhães sobre o assunto.
Transcrição
O envelhecimento é uma diminuição da viabilidade e um aumento da vulnerabilidade, relacionados com a idade. Isso significa que a sua capacidade de responder às solicitações externas e a sua capacidade de funcionar diminuem com a idade. Você se torna mais vulnerável a doenças. Uma das principais causas de mortalidade em idosos é a gripe – a comum gripe.
O envelhecimento envolve diferentes níveis e diferentes órgãos e sistemas do corpo, o que o torna um processo muito complexo e de relativamente difícil estudo. Nós realmente não sabemos muito sobre o envelhecimento, seus mecanismos, e por que envelhecemos. O que impulsiona o processo de envelhecimento, a partir de uma célula ou de uma perspectiva molecular, ainda é relativamente pouco compreendido.
Se você olhar para o nosso tempo de vida, só recentemente vem sendo por mais tempo. Há 150 anos era em torno de 40 anos de idade. E, milhares de anos atrás, era talvez 25.
Quando a nossa espécie evoluiu, e quando a maioria das espécies evoluíram, a maioria dos indivíduos morriam quando jovens. Não havia realmente nenhuma pressão, ou esta era muito fraca, para nós evitarmos o envelhecimento ou vivermos mais.
Há hipóteses, por exemplo: Que ocorrem danos ao DNA, que, em seguida, afetam a renovação celular. E isso, provavelmente, impede a reparação do corpo e contribui para a perda de viabilidade. Depois, há a teoria dos radicais livres. Essa ideia de que as mitocôndrias em nossas células geram compostos altamente reativos que criam um estresse oxidativo prejudicial, o qual, por sua vez, acumulando-se com a idade, seja causa do envelhecimento. Há também os telômeros. Os telômeros são as extremidades dos cromossomas e eles encurtam com a divisão celular. Esse fato, talvez, impulsione o processo de envelhecimento.
Depois dos 30 anos, suas chances de morrer dobram a cada oito anos. Isso é o normal para as populações humanas. Não importa de onde você é ou onde você viva. Em um país do terceiro mundo, as pessoas apresentam uma maior mortalidade inicialmente, mas este aumento exponencial na mortalidade também se verifica.
Você tem criaturas muito originais. Um exemplo são as aves. Elas realmente vivem mais tempo do que seria esperado para o tamanho do corpo, porque elas podem voar e assim evitam os predadores. Uma das espécies de nosso interesse é o rato toupeira pelado. Que vive mais de 30 anos. Por quê? Ele vive num ambiente protegido.Então, não há uma uma pressão evolutiva para ele viver mais tempo. Uma das coisas interessantes sobre o rato toupeira pelado é que ele é extremamente resistente ao câncer. Não foi registrado um único caso de câncer em centenas deles. E a longevidade é adaptável. Existem espécies que vivem muito mais tempo do que nós, como algumas espécies de tartarugas.
Um dos maiores avanços tecnológicos até agora é que você pode manipular genes individuais e assim ter um impacto muito significativo no envelhecimento. Sabemos, por exemplo, que se você começar a manipular os sistemas de reparo do DNA em camundongos, você produz o que se parece com um envelhecimento acelerado. Por outro lado, você pode desligar um único gene em camundongos, como o receptor do hormônio do crescimento, e aumentar neles a expectativa de vida em 50 por cento. Há igualmente intervenções que modulam o envelhecimento. A mais conhecida de todas é a restrição calórica: restringir a quantidade de calorias que os animais comem, mantendo os nutrientes como vitaminas e minerais normais. Isso se sabe, há décadas, que prolongar a vida dos roedores em até 50 por cento. E eles são mais saudáveis ​​por mais tempo, o que é bastante impressionante.
Uma das coisas, por exemplo, que o nosso laboratório pode fazer é investigar o gene que media os efeitos da restrição calórica. Em seguida, desenvolver drogas que têm como alvo o gene, de modo a ter o mesmo efeito de restrição calórica sem que você tenha de se submeter a uma dieta. Se você pudesse retardar o processo de envelhecimento apenas por sete anos, isto reduziria à metade a incidência de doenças relacionadas com a idade. Teria um enorme impacto sobre a vida humana e para a saúde humana.
Não há nenhuma lei da natureza que diga que o envelhecimento é imutável. Pelo contrário, o que sabemos agora é que o envelhecimento é surpreendentemente plástico. No sentido de que ele pode ser manipulado por genes, que podem ser manipulados pela evolução e pela dieta. Quando eu era mais jovem, talvez com dez anos de idade, percebi que as pessoas morriam em todas as idades .E pensei: por que não podemos fazer algo sobre isso? Então, decidi: eu vou fazê-lo. Vou estudar o envelhecimento e vou encontrar uma solução para ele. As pessoas não têm que envelhecer e morrer.

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