sexta-feira, 2 de abril de 2010

60 - Tuberculose pulmonar inativa

Oi, Dr. Paulo: Tudo bom?
Estava pesquisando alguma informação sobre tuberculose na internet quando achei seu blog (EntreMentes). Estou atualmente no Canadá passando uns meses com minha filha que já está morando aqui há um ano.
A questão é que para permanecer mais tempo nesse país precisei me submeter ao raio X. Por causa de uma pequena cicatriz no pulmão os médicos canadenses estão achando que estou com tuberculose inativa e querem fazer um acompanhamento médico comigo.

Esta é uma situação clínica muito observada no Brasil, onde a tuberculose ainda é uma doença com importante prevalência.
Exemplifica-se com a pessoa que, ao fazer uma radiografia de tórax, descobre ser portadora de lesões sugestivas de tuberculose pulmonar. No entanto, ela não se queixa de sintomas.
Nos antecedentes clínicos desta pessoa, poderá constar a informação de uma tuberculose pulmonar que já foi tratada. Como poderá nada constar a respeito, já que a tuberculose pode haver cursado com poucos sintomas (confundindo-se com uma gripe) e também haver curado espontaneamente.
É bastante comum que esta doença, após a cura espontânea ou pelo tratamento, deixe lesões residuais permanentes no pulmão.
Encontrando-se a pessoa sem sintomas e sendo comparadas as lesões observadas na radiografia atual com aquelas que estão presentes em radiografias anteriores (caso a pessoa disponha delas) é que poderá se falar em tuberculose pulmonar inativa. Na hipótese de que essas lesões, consideradas sugestivas de tuberculose, estejam se mostrando realmente estáveis ao longo do tempo.
Não havendo, porém, radiografias anteriores disponíveis, as lesões são a priori consideradas de origem recente. Outras causas possíveis para as lesões pulmonares, além da tuberculose, precisam ser investigadas através da tomografia computadorizada do tórax, da broncoscopia e de outros exames. Só então, após excluídas as demais causas, é que se tornará a falar em tuberculose - com atividade a ser determinada. Pois aqui se necessitará de controles radiológicos periódicos até o médico assistente estar convencido da estabilidade das lesões pulmonares.
Em qualquer tempo, se a pessoa passar a apresentar sintomas respiratórios, como tosse e expectoração, e mesmo sintomas gerais, deverá ser clinicamente reavaliada. Sendo indispensáveis, que se atualize a radiografia de tórax e que se coletem duas ou três amostras de escarro para as baciloscopias, inclusive para a cultura do bacilo de Koch (BK).
Constatando-se a presença do BK em secreções respiratórias, a tuberculose passará a ser considerada ativa e a pessoa deverá se submeter à terapia específica. Sob tratamento, muito antes de sua conclusão, a enfermidade perderá o poder infectante.
Mas, não se encontrando a pessoa atualmente enferma, esse tratamento torna-se desnecessário. Além disso, ela não representa um problema sanitário para a coletividade.

Publicado em EntreMentes

2 comentários:

Anônimo disse...

Ola Dr. Paulo. Mudei-me para o Canada em 2006 para um pos-doc. Tive que fazer um TB skin test e esse deu positivo. Me submeti a um raio X que estava normal. No final de 2009 precisei me submeter novamente a outro raio X, o qual apresentou pontos de calcificacao. Por isso, os medicos daqui agora sugerem que eu tome a medicacao para TB. Tenho um problema na minha pele a mais de 6 anos, no abdomen e costas. Fiz varias biopsias no Brasil e aqui e nada conclusivo. O ultimo medico diagnosticou como foliculite. Nenhum tratamento deu resultado. Outro problema que tive a 15 meses atras e ainda nao se resolveu foi uma uveite no olho esquerdo. O senhor acha que o problema de pele e o olho podem estar relacionados com a presenca do bacilo nos meus pulmoes? O senhor aconselharia o tratamento para TB?

Paulo Gurgel disse...

Prezado(a) senhor(a):
O fato de seu TB skin test ter sido positivo, em 2006, deve ser interpretado como já estando você infectado pelo bacilo da tuberculose naquela época. Para ser considerado(a) doente, teria de estar apresentando sintomas.
Pontos de calcificação, mostrados na radiografia de tórax de 2009, tendem a ser consideradas como lesões residuais. É possível que já estivessem presentes na radiografia de 2006. Os dois exames devem ser comparados, podendo ser interessante a realização de uma tomografis de tórax.
É improvável que as lesões cutâneas guardem alguma relação com a tuberculose.
Quanto à uveíte, entre suas causas se encontra a tuberculose. Mas é preciso que o oftalmologista, levando em consideração o aspecto das lesões existentes em seu olho, conclua pela compatibilidade com este diagnóstico.
Caso isso aconteça, além das drogas
específicas, a prova terapêutica deverá incluir o emprego de corticosteroide, por ser a uveíte tuberculosa uma forma de hipersensibilidade da doença.
Em qualquer período de sua vida, se estiver a apresentar tosse com expectoração por três semanas ou mais tempo, baciloscopias e cultura para BK deverão ser feitas em amostras de escarro.
Cordialmente,
Dr. Paulo Gurgel